quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Do abudo que germinou!

E nenhuma palavra mais significava aquilo que ela sentia!
Aquele jogo de convencimento, a arte da conquista, o domínio sobre seus sentimentos...

Ela é de natureza bruta, daquelas que quando a gente poda, cresce ainda mais forte.

O amor tem dessa natureza, que só para rir de quem o poda, ama ainda mais.
E ela acredita que só na brincadeira é que o amor ainda irá vencer!
Pois ele nasce, cresce e morre no mesmo lugar, permite mudar, evoluir e amadurecer enraizando ainda mais sua sutileza.

E como uma fruta que apodrece, cai no chão e gera outra árvore, o amor sempre sabe como e onde renascer!

Tão simples como uma fruta que amadurece, é amar e ser amado.
Tão simples quanto um passarinho que bica o fruto sem o derrubar,
é a responsabilidade de quem quer mais ainda não aprendeu a amar!
É só provar do fruto de teu próprio amor.
Continue doce até parar de amargar!

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Você, o espelho cristalino!

Reflete medo,
reflete sorriso envergonhado,
reflete cada marca de expressão,
reflete o amor que não digo,
reflete toda forma de emoção.

São teus olhos que dum marejar cristalino,
toda vez que está feliz ou quando alguma dor te passa uma rasteira,
reflete exatamente aquilo que sinto ao te acompanhar.
É nesse mar que enxergo meu reflexo e me dispo de qualquer fantasia!
Pois nos teus olhos não posso mais mentir,
olhos de espelho que refletem tudo aquilo que lhe mira.

Se me olhasse noutro espelho qualquer, nunca enxergaria com a clareza que me vê!
Eu haveria de ser perfeita, mas espelho cristalino é você.
E como a lua que contempla o mar que da-lhe colo todas as noites,
reconheço o abraço no teu reflexo tão verdadeiro do que sou eu.
Me reconheço nos teus olhos e, além de mim, enxergo tudo aquilo que sonho ser.

Tão cristalino o espelho dos olhos teus,
aprendeu a refletir os sonhos de criança dos olhos meus.

Então faz-se o marejar:
nos teus olhos,
nos meus olhos,
nos meus sonhos,
nos teus sonhos!

Espelho cristalino, se eu ou se você!
Sê eu ou sê você, mas espelho cristalino há de sê.


segunda-feira, 27 de julho de 2015

Coragem que eu sei que você pode mais!


Ela caiu numa viela e ralou o calcanhar.
Ela teve que mudar de bairro, escola e religião.
Ela teve que contar dinheiro pro pão.
Seu melhor amigo viajou, a melhor amiga mesmo perto se distanciou.
Ela continuou a caminhar e dessa vez caiu e ralou o joelho.
Pegou a bicicleta, o pneu estava solto.
Aprendeu a dirigir, a calota soltou no meio da estrada.
Se apaixonou, teve o coração partido.
Casou, depois de um mês se separou!
Abriu uma firma, o dinheiro não entrava, entrou em falência!
Seria tudo muito trágico não fosse por uma coisa.
A moça tinha coragem e aprendeu a transformar drama em poesia,
a cada surpresa que a vida trazia ao invés de se indignar ela em resposta sorria.
"Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz!
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais!"
E de fato, ela podia, tanto podia que sorrindo a vida seguia.
É que seu calcanhar e joelhos ralados, já não ralavam mais em qualquer tombo.
O novo bairro, a nova escola e a nova religião,
trouxeram mais paz no coração.
O melhor amigo um dia voltou, a amiga distanciada, era mais feliz aonde estava.
A bicicleta já foi arrumada, o pneu tem seu charme negro sem a calota.
A ilusão passa, as memórias de uma bela paixão, alimentam outras que virão.
Depois de viver junto, sentiu a plenitude em estar só.
A firma que entrou em falência, deu vida para a moça viver.
Seria muito cômico se não fosse por uma coisa!
A moça tinha amor e aprendeu a aceitar a dor como parte da vida,
a cada incomodo que sente, olha ao redor para enxergar uma saída.
Pois apesar de saber que é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro,
não consegue convencer as paredes do quarto para dormir tranquila,
 sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo.
Sua coragem e seu amor lhe presenteiam diariamente com a dor e a delícia de poder ser exatamente o que se é. Que baita responsabilidade, não?
De mãos dadas com suas dores e alegrias, seguia assim a vida, com amor e coragem, esvaziando e preenchendo, deixando pra lá essa coisas de desistir de si por qualquer bobagem.
Por que se malandro soubesse o quanto é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem!
Ai, ai... Caramba!



quinta-feira, 23 de julho de 2015

Rainha de Si

   Passou a mão em seus cabelos castanhos enquanto só enxergava os olhos da mesma cor.
   Pensou que não suportaria olhar diariamente para suas orelhas de abando e nem para o nariz, esse último não era tão grande mas sempre tem aquele irmão que adora aumentar nossos "defeitos".
   Ela pensou em como seus cabelos escondiam bem tudo aquilo que não queria que ninguém visse, inclusive aquilo que ela mesmo não queria ver.
   Mas aquilo tudo que via e as vezes desviava o olhar a perseguiria por toda a vida. Era ela, nua, de frente ao espelho, uma mão acariciando seus cabelos, outra mão segurando a máquina que os cabelos cortaria.


   "Vou fugir!",
como fugiria com aqueles cachos que carregavam sua beleza tão bem emquadrada?
   "Vou raspar minha cabeça e vou fugir!",
como se sua orelha de abano e seu nariz italiano a protegessem de qualquer mal intenção. Mas a intenção foi boa!
   "Começo por trás!",
como se desse para desistir no meio do caminho.
   "Começo pela frente, melhor..."

   Então, ela começou. A medida que continuava, seus cachos caiam no chão e desenhavam o tapete por onde mais tarde pisaria ao nomear-se Rainha.

   E na contramão de seu medo, ela não chorou. Careca estava e sorria, sorria por reconhecer-se!

   Reconhecia-se bela, um nariz e orelhas de personalidades singulares que a permitiam ser exatamente o que realmente era. E era bela, tão bela que nada mais a enquadraria.

   Desistiu de fugir pois se encontrou, mudou-se para onde sempre esteve e nunca percebeu!
Rainha de si, essa mulher sou eu.


terça-feira, 21 de julho de 2015

Calcinha molhada

A saliva que saia de sua boca e escorria até molhar a calcinha.
Sua boca que tinha fome de carne viva!
E quanto mais comia mais fome tinha,
pois quanto mais mastigava, mais ainda sua boca salivava!

Era comida gostosa de molhar calcinha,
comida que não se parte, comida de por inteira na boca.
E quanto mais enchia a barriga mais barriga vazia sentia,
pois quanto mais preenchida, mais esvaziar ela queria.

"A partir de hoje, só aceito comida que me molhe a calcinha!",
decretava ela gozando em plena liberdade.
Fechou a boca para os sapos que engolia,
resolveu que seria dona de si a partir daquele dia.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Uma imagem vale mais que mil palavras!

O mundo silêncio.
Ninguém mais amou!
As palavras perderam a força.
Na era digital, mentir ficou normal.
Confundiram tecnologia com hipocrisia
e a relação com o digital tornou a relação superficial.


Consegue ver o que há por detrás de um sorriso?
Por que pensa que não tem nada com isso?
Onde estão as amarras dessa tela?
O que te cega para o que tá ao redor dela?


Aqui é carne e osso, casca, fruto e caroço.
Não cabe na superficialidade de um esboço!
É arte final, moço.
A viva é para ser apreciada sem moderação,
tecnologia não pode falar mais alto que o coração.


Não se engane com o que vê!
A gente costuma falar que é o que gostaria de ser.
Pois é, quase acreditei naquilo que representava você,
mais do virtual pra vida real tem coisa que não dá pra esconder!
O ser humano só é perfeito dentro da sua imperfeição,
então melhor assumir o erro e aprender a distinguir amor de objetificação.


Por real ações,
por relações.

sábado, 13 de junho de 2015

Pelos

Pelos direitos de poder ser!
Pelos medos de não ser mulher o suficiente.
Pelos vários momentos taxada de porca.
Pelos padrões quadrados de uma beleza um tanto quanto redonda.


Pelos, direitos de poder ser!
Pelos, medos de não ser mulher o suficiente.
Pelos, vários momentos taxada de porca.
Pelos, padrões quadrados de uma beleza um tanto quanto redonda.


Na minha beleza arredondada, 
guardando as pérolas que me jogaram, 
mulher o suficiente,
para ter o direito de ser como, onde e quando quiser!

terça-feira, 9 de junho de 2015

Vácuo









Inspira.
Expira.








Preenche.
Esvazia.








O que ontem foi amor, hoje descansa poesia.
O que antes era plenitude, hoje é buraco fundo do peito.
Nem bom, nem ruim, nem leve, nem pesado.
É só, perdido e reconhecido no centro do vácuo.



terça-feira, 12 de maio de 2015

Bicuda

Desde pequeninha mamãe reclamava de meu bico!
Bico de manha, bico de manhã.
Desde pequeninha peço beijo a quem vejo!
Por beijo me queixo, por um beijo no queixo.
Foi um rapaz de voz macia que descobriu, um tratante:
"Esse teu bico é um convite constante!".

Pois não é que acertou?

Pensem em manha de manha, em queixa ou queixo,
antes que eu respondesse, respondendo ao meu convite, roubou-me um beijo!

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Janela sem cortina

Basta olhar pra você para reconhecer!
Tem o brilho do sol e da lua no mesmo lugar.
É fácil! É olhar para você e ouço passarinho cantar.
Olhando pra ti, sinto o orvalho escorrer por tudo aquilo que é natureza.
Que delícia estar perto de ti, assim, nua.
Então tomo banho de lua e deixo o sol me beijar!
A tardinha tem as cigarras que cantam pra aprender a amar,
enquanto amo só de te ver de tão perto.
Você é janela sem cortina e é impossível te ignorar!
É olhar por você para entender que a noite chega,
mas que o dia já vem renascer.
É olhar por você que a gente perde o medo,
entra pela janela e ainda deita na cama.
Quem olha pelos olhos seus não entra mais pela porta.
Se escancara, não se tranca!
Já aprendi que meu corpo passa pelo corpo teu.
Hoje, nossa vista será a mesma.
E se houver cortina, faço vestido pro nosso casamento!

terça-feira, 5 de maio de 2015

Foi daqui que pediram amor?

- Sim! Entre.
- Não consigo.
- Te esperei por tanto tempo... Ainda bem que chegou!
- É que só hoje te ouvi chamar.
- Achei que já soubesse que o esperava. Não é assim? Em certa idade começamos a amar. Vamos, entre! É bom que nos apressemos.
- Claro! Assim que...
- Temos muito o que fazer, não vejo a hora de amar! Acho que estou já estou preparada!
- Sim, mas o amor...
- Venha logo! Já posso me vestir com aquela roupa favorita, sorrir para a atendente da padaria, ajudar alguém a atravessar a rua... Tanto a fazer! Espere que vou me arrumar, acho que está um bocado frio, devo me agasalhar!
Foi se trocar mas se esqueceu de abrir a porta.

- Voltei!

O silêncio fez-se. O amor para não morrer de frio, foi bater em outra porta!

sábado, 25 de abril de 2015

Ela floresceu no inverno!

Era inverno.
Ela floresceu!
Estava só, naquela árvore enorme, via-se apenas uma flor.

Era o inferno,
mas ela sobreviveu!
Entre os demônios um anjo permanecia com amor.

Pois mesmo se desistisse ela não resistiria, dizem que é só o amor que sabe usar o fogo do inferno para germinar a flor que acalenta o olhar frio dos que passam pelo inverno.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Compro sonhos!

O brilho daqueles olhos me trouxeram o impulso visceral:
"Eu compro!"
Ninguém deu mais e eu tomei posse daquele sonho.
"Pago em suaves parcelas de amor e prometo: você não vai se arrepender."
Ele aceitou, já não dormia e nem comia, seu sonho não cabia mais em si.
Enquanto ele se despedia apreensivo, eu sorria, pois quem compra sonhos entende de alquimia.
E foi isso, o amor tornando sonho realidade em realidade, saciando fome e zelando o sono.
Ele fez um bom negócio e ela mostrou que amar é um sonho realizado todos os dias.


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Sê como o sândalo!

Levei um tapa na cara e me calei.
Ele me deu um tapa na cara e pois-se a rir.
Continuei calada.





Não, eu não me calei! Na verdade, eu nunca houvera antes nem haveria de me calar.
Ave Maria, ser agredida e não poder gritar! Mas meu grito fez eco dentro e entendi que agredir seria recuar. Respirei fundo a dor do mundo e ao agressor resolvi acarinhar. Dei um sorriso breve, coisa de leve, ele se espantou, mudou de rumo e pôs-se a caminhar.

É que quando a razão ataca tem gente que se perde onde sempre morou.
Pois bem, volte de onde veio, deixe-me seguir sem teu freio.

A natureza ensina: sê como o sândalo que perfuma o machado que o corta!

Tão grande foi o grito que meu silêncio fez que pude acordar a cidade inteira!
Enquanto ninguém ouvia os gritos daquele senhor, minha mente fez-se paz e silenciou.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Quem disse que o amor precisa fazer sentido?

Amado amigo,
fomos pegos de surpresa, não é mesmo?
No fundo, ainda tínhamos esperança de que a humanidade tomasse um outro rumo e a compreensão viesse! Talvez por um Deputado que luta pelos marginalizados, talvez por um Guru de blackpower ou até em um OVNI. Mas no final, a esperança ainda tava em algum lugar. Talvez ela ainda esteja, talvez em um outro novo lugar.
Hoje pela manhã senti uma saudades imensa que me surpreendeu ainda mais, vim ver uma foto sua. É claro que continuaria me ensinando como sempre fez: "Quem disse que o amor precisa fazer sentido?". Perdoando erros imperdoáveis, fazendo escolhas que nunca escolheríamos, nos tornando alguém que nunca iríamos imaginar... Afinal, que sentido teria o amor, senão o próprio amor?
Pois bem, então tudo fez sentido ao saber de sua partida. Eu só via amor, um amor um pouco torto e meio sem jeito, mas o único meio que encontrou para dar sentido a vida, amando do seu jeito.
Não posso negar, seu amor foi fundamental para a minha construção, dele me nutri para estar forte o suficiente hoje, limpando o sangue nas orelhinhas dos cachorros, falando alto com quem me falta o respeito aprendendo a impor meus limites ou escolhendo comer algo que não maltrate ninguém.
Você foi e sempre será o exemplo de muitas coisas boas e outras nem tão boas assim, mas essenciais para que eu aterrasse todas as minhas força.
De hoje em diante, coloco a minha gratidão pública e amor acima de qualquer outro sentimento que queira aparecer, para que o bem que me fez te alivie nessa passagem e que o conforto que não encontrou aqui te encontre de braços aberto.
Eu te amo, sem qualquer compromisso com o sentido!
Eu peço perdão, eu sinto muito, eu te amo e eu te agradeço.


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Fera, bicho, anjo e mulher!

Começo esse texto dizendo que meus peitos pesam. Sim, por vezes os carrego com a ajuda de um sutiã, outras vezes deixo que a gravidade me ajude a senti-los.
Agora, me exponho. Certo dia, em um lugar do quintal onde nenhum vizinho alcançava a vista, eu tomava sol e resolvi banhar os seios que um dia hão de alimentar aquele que vier me eternizar.
"Fiiiiiiiiiiuuuuuuuuu, fiuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!"
Eu estava em casa, em um lugar onde nunca havia sido incomodada ou invadida e não fazia nenhum sentido que aquele assobio viesse pra mim. Espera! Dai um pintor, pendurado em um lugar onde não havia janela nenhuma deu todo o sentido praquele assobio invasivo e desrespeitoso.
Pronto, dai vi ele e dois companheiros de trabalho fazendo uma pequena pausa para contemplar os dois sóis que em mim habitam! E alguma coisa brilhou de onde estavam, se espelho, celular ou lata de tinta, nunca saberia, mas nada brilhou mais do que o escudo que meu peito formou em nome de todas aquelas que sentem o peso do peito que tem.
Coloquei meu vestido e fui para a porta de casa. O prédio que pintavam ficava no quarteirão ao lado! É que eu também sei assobiar, sabe?
"Fiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!"
Eles olharam e eu acenei com a mão chamando para onde eu estava, em resposta, acenaram com sinal negativo e continuaram seu trabalho.
"Fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!"
Eu insisti e tive a mesma resposta. Comecei, então, a caminhar para a portaria do prédio! Afinal, se meus peitos agora eram públicos, aquela situação também seria.
"FIIUUUUUUUUUU!"
O assobio agora não era meu. Olhei para cima e o sinal era outro, um sinal como quem dizia: "Espera!".
Enquanto esperava a presença dos três, uma viatura da Polícia Militar passou pela rua, com dois policiais do sexo masculino, dei sinal: "Tudo bem? Boa tarde! O negócio é o seguinte, estava dentro de casa, tomando sol sem a parte de cima de meu bíquini, sempre fiz isso e nunca tive problemas, é um local em que nenhuma janela vizinha avista, mas a questão é que o prédio de lá está com pintores e eles ficam em um lugar que eu nunca cogitaria me preocupar, estão pendurados. Um deles assobiou e quando olhei vi algo refletindo, estou com medo de ser um celular ou uma câmera e gostaria de me assegurar que não tem nenhum registro da cena. Como posso proceder?"
"Olha, senhora, nesse caso não há nada que podemos fazer, o certo seria fazer um BO na delegacia para registrar a ocorrência. Se quiser podemos leva-la até a delegacia mais próxima!".
"Muito obrigada, pode deixar que eu resolvo, então!"
Os policiais estavam mais entretidos com a história do os pintores estavam com meus seios, por lá ficaram para acompanhar o que viria, um deles desceu e já veio se desculpando:
"Senhora, me desculpe! Na verdade não tenho nada a ver com isso, foi o moleque quem assobiou, falei para ele não mexer! Eu estou no meu trabalho, sou pai de família!"
"Olha, entendo, acredito em você, mas enquanto eu não olhar o celular de cada um de vocês e me certificar que o registro do meu peito, por muita sorte de vocês, ficou apenas na memória, eu não saio daqui. Caso eu saia sem que isso aconteça, pode ter certeza que estarei em alguma delegacia registrando a ocorrência para entrar em contato com o serviço de vocês e condomínio desse prédio!"
"Imagina, senhora, entrego meu celular na sua mão, eu não faria isso! Imagina... Eu amo a minha família! Vou avisar os outros para descerem."
Desce o segundo:
"Olha, senhora! Foi o outro rapaz quem assobiou, ele já está descendo!"
"Ótimo. Posso ver seu celular?"
"Pera ai! Eu não tenho nada a ver com isso. Ver meu celular já é invadir minha privacidade!"
"Opa! Hahahaha... Então você quer falar sobre invasão de privacidade? Eu, na minha casa, no meu quintal, com o meu corpo, sofrendo assedio de três homens que ao invés de estar trabalhando resolvem procurar possíveis corpos a mostra na região?"
"Mas não foi eu quem assobiou!"
"Eu vi algo refletir e não faço a mínima do que foi, existe a possibilidade de ser um celular e isso eu não quero que seja, estava em casa e não estava posando pra ninguém. Se eu quisesse ser fotografada eu com certeza pediria, não tenho problemas com isso. Vim aqui resolver isso de forma simples e impor o respeito que vocês não tiveram. Ou você me mostra ou eu resolvo de outra forma, mas com certeza vou resolver isso para que não haja exposição minha pelo desrespeito de vocês!"
"Tudo bem, senhora, tudo bem..."
Então ele fez menção de entregar o celular para um dos policiais que ainda estavam ali.
"Querido! Os peitos são meus, quem está falando com você sou eu, é pra mim que você entrega o celular e sou eu quem vai ver se tem fotos minhas nele ou não, três machistas vendo meus seios já é o suficiente, se tiver qualquer foto ai, quem vai ver sou eu!"
Vi as fotos do moço, pai de uma bebe linda, ganhou até um elogio pra filhota, o primeiro desceu e o celular veio junto. Nada em um e nada no outro. Desceu por último o dono do assobio.
"Vem cá, queridão? Qual o teu problema? Tem mãe, irmã, filha, namorada? Tem noção do desrespeito que acabou de cometer? Sabe que eu estava na minha casa e meus peitos em momento algum apontaram pra te agradar e receber um 'fiufiu' de volta? Já agradeceu a sorte que teve em contemplar os seios de uma MULHER que nunca ganharia com esse tipo de atitude machista e ridícula? Tem noção que são atitudes como essas que fazem com que mulheres sejam expostas a violência doméstica diariamente pois se calam sentindo-se culpadas pelo simples fato de carregarem seus próprios peitos, peitos esses que com certeza já alimentaram essa boca que hoje assobia achando que pode invadir assim alguém que deveria no mínimo respeitar pelo simples fato de ser mulher e gerar e alimentar vida de moleques como você?"
"Desculpa, senhora, a senhora está certa!"
"Tá! Agora esteja consciente de que eu sou uma em um milhão e que infelizmente pouquíssimas mulheres coragem de assobiar de volta e falar mais alto que três MOLEQUES juntos e que infelizmente pela desvalorização do nosso sexo pequenas atitudes como a sua abrem espaço pra um xingamento, afinal, é só um xingamento, uma agressão física, afinal, um tapinha não dói, e toda uma vida de violência, afinal que é a mulher senão um objeto pro entretenimento do homem? Portanto, nenhum assobio mais sai da sua santa boca para desvalorizar o corpo de uma mulher que não tem forças ou confiança o suficiente para se defender, você não desrespeitará mais nenhuma mulher como você desrespeitou a mim! Está entendendo? Eu faço o que eu quiser do meu corpo e, tenha certeza, o que eu fizer será pra mim e para o meu bem e não para agradar qualquer outro alguém."
"Com certeza, senhora! A senhora está certa!"
"E é bom levar a sério, por que daqui pra frente não saberei das tuas atitudes, mas a minha mandinga é braba e pega forte! Deixa eu ver seu celular."
Vi e nada. Hora da polícia militar entrar em ação:
"Senhora, por segurança, o ideal seria que a senhora fizesse um BO."
"Opa! Eu agradeço a preocupação com a minha segurança mas como não podem fazer nada, prefiro que continuem sem ter o que fazer agora que a situação já está resolvida!"
O carro foi embora. Nenhuma foto nos celulares. Mil desculpas direcionadas a essa senhora que vos escreve e toda uma falange de Anjos, Santos, Deuses, Demônios, Deusas, Fadas, Gnomos e  Orishas, vigiando a boca de cada um deles.




E antes que teu comentário machista venha querer aumentar a gravidade de situações como essa, eu esclareço: se fosse um cara rico não haveria diferença, eu pago minhas contas, mas se quiser cuidar da minha via, te mando algumas, quem sabe eu aceite alguma opinião sua quanto trouxer o extrato delas pagas em dia; se fosse um cara gato também não faria diferença, eu, sinceramente, chamaria os três, um de cada vez, para pintar a minha casa, mas falta de respeito e machismo secam minha lubrificação divina e abundante e me assassinam o tesão; bom, se eu tava mostrando, queria o que?, queria a mesma naturalidade com que olhamos para um homem sem camisa, só ai mães poderiam amamentar seus filhos em paz. E se reclamar, tiro a parte de baixo e tomo sol na rua, até você entender que meu peito não é brinquedo, é carne, osso e está acoplado a uma cabeça que pensa e alimentar uma boca que é doida para gritar coisas de um coração que protege mesmo e só tem amor pra dar!

De peito aberto,
Rafaela Rocha