quarta-feira, 29 de julho de 2015

Você, o espelho cristalino!

Reflete medo,
reflete sorriso envergonhado,
reflete cada marca de expressão,
reflete o amor que não digo,
reflete toda forma de emoção.

São teus olhos que dum marejar cristalino,
toda vez que está feliz ou quando alguma dor te passa uma rasteira,
reflete exatamente aquilo que sinto ao te acompanhar.
É nesse mar que enxergo meu reflexo e me dispo de qualquer fantasia!
Pois nos teus olhos não posso mais mentir,
olhos de espelho que refletem tudo aquilo que lhe mira.

Se me olhasse noutro espelho qualquer, nunca enxergaria com a clareza que me vê!
Eu haveria de ser perfeita, mas espelho cristalino é você.
E como a lua que contempla o mar que da-lhe colo todas as noites,
reconheço o abraço no teu reflexo tão verdadeiro do que sou eu.
Me reconheço nos teus olhos e, além de mim, enxergo tudo aquilo que sonho ser.

Tão cristalino o espelho dos olhos teus,
aprendeu a refletir os sonhos de criança dos olhos meus.

Então faz-se o marejar:
nos teus olhos,
nos meus olhos,
nos meus sonhos,
nos teus sonhos!

Espelho cristalino, se eu ou se você!
Sê eu ou sê você, mas espelho cristalino há de sê.


segunda-feira, 27 de julho de 2015

Coragem que eu sei que você pode mais!


Ela caiu numa viela e ralou o calcanhar.
Ela teve que mudar de bairro, escola e religião.
Ela teve que contar dinheiro pro pão.
Seu melhor amigo viajou, a melhor amiga mesmo perto se distanciou.
Ela continuou a caminhar e dessa vez caiu e ralou o joelho.
Pegou a bicicleta, o pneu estava solto.
Aprendeu a dirigir, a calota soltou no meio da estrada.
Se apaixonou, teve o coração partido.
Casou, depois de um mês se separou!
Abriu uma firma, o dinheiro não entrava, entrou em falência!
Seria tudo muito trágico não fosse por uma coisa.
A moça tinha coragem e aprendeu a transformar drama em poesia,
a cada surpresa que a vida trazia ao invés de se indignar ela em resposta sorria.
"Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz!
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais!"
E de fato, ela podia, tanto podia que sorrindo a vida seguia.
É que seu calcanhar e joelhos ralados, já não ralavam mais em qualquer tombo.
O novo bairro, a nova escola e a nova religião,
trouxeram mais paz no coração.
O melhor amigo um dia voltou, a amiga distanciada, era mais feliz aonde estava.
A bicicleta já foi arrumada, o pneu tem seu charme negro sem a calota.
A ilusão passa, as memórias de uma bela paixão, alimentam outras que virão.
Depois de viver junto, sentiu a plenitude em estar só.
A firma que entrou em falência, deu vida para a moça viver.
Seria muito cômico se não fosse por uma coisa!
A moça tinha amor e aprendeu a aceitar a dor como parte da vida,
a cada incomodo que sente, olha ao redor para enxergar uma saída.
Pois apesar de saber que é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro,
não consegue convencer as paredes do quarto para dormir tranquila,
 sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo.
Sua coragem e seu amor lhe presenteiam diariamente com a dor e a delícia de poder ser exatamente o que se é. Que baita responsabilidade, não?
De mãos dadas com suas dores e alegrias, seguia assim a vida, com amor e coragem, esvaziando e preenchendo, deixando pra lá essa coisas de desistir de si por qualquer bobagem.
Por que se malandro soubesse o quanto é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem!
Ai, ai... Caramba!



quinta-feira, 23 de julho de 2015

Rainha de Si

   Passou a mão em seus cabelos castanhos enquanto só enxergava os olhos da mesma cor.
   Pensou que não suportaria olhar diariamente para suas orelhas de abando e nem para o nariz, esse último não era tão grande mas sempre tem aquele irmão que adora aumentar nossos "defeitos".
   Ela pensou em como seus cabelos escondiam bem tudo aquilo que não queria que ninguém visse, inclusive aquilo que ela mesmo não queria ver.
   Mas aquilo tudo que via e as vezes desviava o olhar a perseguiria por toda a vida. Era ela, nua, de frente ao espelho, uma mão acariciando seus cabelos, outra mão segurando a máquina que os cabelos cortaria.


   "Vou fugir!",
como fugiria com aqueles cachos que carregavam sua beleza tão bem emquadrada?
   "Vou raspar minha cabeça e vou fugir!",
como se sua orelha de abano e seu nariz italiano a protegessem de qualquer mal intenção. Mas a intenção foi boa!
   "Começo por trás!",
como se desse para desistir no meio do caminho.
   "Começo pela frente, melhor..."

   Então, ela começou. A medida que continuava, seus cachos caiam no chão e desenhavam o tapete por onde mais tarde pisaria ao nomear-se Rainha.

   E na contramão de seu medo, ela não chorou. Careca estava e sorria, sorria por reconhecer-se!

   Reconhecia-se bela, um nariz e orelhas de personalidades singulares que a permitiam ser exatamente o que realmente era. E era bela, tão bela que nada mais a enquadraria.

   Desistiu de fugir pois se encontrou, mudou-se para onde sempre esteve e nunca percebeu!
Rainha de si, essa mulher sou eu.


terça-feira, 21 de julho de 2015

Calcinha molhada

A saliva que saia de sua boca e escorria até molhar a calcinha.
Sua boca que tinha fome de carne viva!
E quanto mais comia mais fome tinha,
pois quanto mais mastigava, mais ainda sua boca salivava!

Era comida gostosa de molhar calcinha,
comida que não se parte, comida de por inteira na boca.
E quanto mais enchia a barriga mais barriga vazia sentia,
pois quanto mais preenchida, mais esvaziar ela queria.

"A partir de hoje, só aceito comida que me molhe a calcinha!",
decretava ela gozando em plena liberdade.
Fechou a boca para os sapos que engolia,
resolveu que seria dona de si a partir daquele dia.