domingo, 14 de dezembro de 2014

Tá difícil falar de amor!

O meu carro foi roubado. Pai de família desempregado. É! Tá tudo estragado.
Crianças na rua pedindo esmola, alimentando o tráfico de cola. E eu aqui sentado.

É que tá difícil falar de amor,
tá ficando fácil rimar a dor.
É um desperdício...

O céu de estrelas modificado, só vejo fumaça pra todo lado. É bom tomar cuidado.
Pessoas mentindo, justificando, dizendo que amam se machucando. Tem algo de errado!

É que tá difícil falar de amor,
tá ficando fácil rimar a dor.
É um desperdício...

Mas e se eu tentasse falar de amor?
Desapegando de toda essa dor, eu começo agora!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Foto grafia do nosso amor!



Era a vista dos teus olhos que me fazia bonita. Nunca me gostava nos retratos de festas de família, menos ainda nas fotos em grupo com os amigos, nas que um desconhecido de mim tirava, só piorava. No fundo, eram teus olhos que esverdeavam os meus, o meu sorriso bobo era a consequência do teu. Então, lá estava eu, na pose que você gostava, sustentando o que te agradava. Que gostoso me reconhecer no que antes nunca experimentara. Que gostoso ser como você o que sempre houvera sido eu, mas nunca antes pudera perceber. E a foto eternizou o que o egoismo de nossos corações poderia esquecer ou talvez guardar a sete chaves diante da insustentável permanência do ser. Mas você eternizou o que a foto enquadrou. Os olhos mais esverdeados, o sorriso mais sincero, a pose que vez ou outra ainda faço e volto a lembrar de ti. Pois é! Me descobri mais bonita e aprendi a sorrir mesmo longe de ti. Um sorriso sincero sem saudosismo ou irônia. Um sorriso sincero de quem deixou a pose antiga para adequar-se aos olhos de quem adequava o tato para o retrato que com a modelo faria. E que bela foto virou a nossa história de amor, melhorou minha cara nas últimas fotos de família e em grupo, até nas fotos tiradas por qualquer um. Por que mais do que a fidelidade que tive por ti, permaneço fiel ao amor que aprendemos juntos, esse amor que dá vontade de fotografar e guardar pra sempre, este permanece bem vivo no brilho do meu olhar que , hoje em dia, qualquer câmera porcaria consegue eternizar!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Continue a nadar!


Não cabe, teve de sair.
Não cabe, aprendi a dividir.
Transformando câncer em poesia para não morrer na monotonia.
Transformando a arte em remédio que é para não morrer de tédio.
Parei de usar drogas depois que resolvi amar.
Hoje vivo entorpecida e não consigo mais parar.
Sai da monotonia, sei que não morro mais de tédio mas não aceito porcaria.
Pois amar é droga fina, pois amar é mordomia.
Os pobres de espírito nunca entenderão.
Os ricos de dinheiro, com ele não a comprarão.
Hoje vivo só de amor, sem pedir licença, nem por favor.
Deixei o trabalho, namorado e a família.
Troquei por gargalhada alta e tempo para cheirar as flores, mudando o rumo em qualquer ventania.
Foi ontem que reparei, o botão que eu era se amadureceu e se abriu pro meu amor.
Pois de tanto mergulhar no raso, sei que meu mergulho já não mais lhe caberá.
Mergulho, por hora, no meu oceano infinito e particular.
Quem de amor quiser viver, aconselho: continue a nadar e con ti nu e a nadar!



quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Ponte aérea

Ela vinha de cá, de um lugar onde o relógio marcava seis da tarde. Ele vinha de lá, onde eram seis da manhã. Se encontraram as três, enquanto esperavam pelo próximo avião com destino a qualquer lugar. Ela pensando o que a esperava, sem sorrir, sem graça de nada, esperando, também, o que nem sabia que esperava. Ele com certeza do que viria, sem certeza de que gostaria, rico de dinheiro e pobre de si, homem infeliz que aprendeu a sorrir. Estavam lado a lado mas nada que os fizessem perceber a própria presença, quem dirá a do outro. Eles estavam lado a lado, com fusos desajustados e sem sorrisos no rosto. Tamanho era o desgosto, não tinham força nem para reparar.

Uma hora se passou. Era sete da tarde, sete da noite e também quatro.

- Can I?
- O que? Oh... Sorry!
- Posso usar essa tomada?
- O que?
- A tomada. Posso usar para carregar um pouco meu celular?
- Pode, já carreguei o meu.

Ela percebeu que ele era bem bonito apesar de mal encarado. Ele percebeu o sorriso sem graça de quem não sabe disfarçar. Ele percebeu que gostava desse sorriso sem graça de quem não sabe disfarçar. Ela sorriu mais sem graça ainda e começou a gostar da cara que já não a mal encarava.

- Tá indo pra onde?
- Uma reunião de negócios, por isso preciso do celular.
- Fique tranquila, não perguntei por isso. Pode usar a tomada!
- E você?
- Resolvi fazer um mochilão na Europa.
- Sozinho?
- Sim. Tava meio perdido.
- Veio se perder em outro continente?
- É uma boa teoria.
- Eu tenho mais uma teoria!
- Qual é a sua teoria?
- Relacionamentos e fusos horários!
- Parece mais interessante que o meu destino, acho que tenho tempo para ouvi-la.
- Eu sempre caio em um questionamento, porque no final porque não me amarrei a ninguém ou por que meus relacionamentos passados não deram "certo". Daí, a teoria: éramos de tempos diferentes, eu estava em um fuso horário e a pessoa noutro, e o tempo de nosso relacionamento foi exatamente o tempo que esperávamos o próximo vôo, a ponte aérea, cada um para um destino completamente diferente. Chegando, então, a conclusão, que querer ajusta o meu relógio ao de outra pessoa que não vai para o mesmo destino que eu não faz sentido nenhum, o melhor a fazer é aceitar que daqui pra frente seguirá a viagem só, contemplar o céu ou aproveitar para tirar um cochilo.
- Muito bem! Você faz o que mesmo?
- Por que? Minha profissão vai alterar a validade da minha teoria?
- Curiosidade.
- Pesquisa de mercado para multinacionais.
- E como pensou em tudo isso?
- Muitas pontes aéreas de aviões e de relacionamentos mal resolvidos.
- Olha, acaba saindo muito mais barato e sensato do que um mochilão pela Europa quando não se tem fluência em nenhum outro idioma que não o português.
- E por onde vai começar?
- Zurique.
- Vôo 1545?
- Vôo 1545.
- É... Acho uma boa você ajustar teu relógio no meu!

Chegaram juntos as 8 da noite.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Não é o maior ato de liberdade sexual!

- Deixa eu comer seu cu?
- Não.
- Já transou com mais de uma pessoa?
- Não.
- Já teve vontade?
- Já.
- Então, por que não?
- Tive vontade mas nunca me senti a vontade. Tenho um pouco de preguiça do que vão falar depois.
- Não deveria ligar para o que...
- Não! Do que os parceiros falariam! Ou se eu não gostasse, quisesse parar antes de acabar. Ia dar muito trabalho ter que lidar com o imaginário alheio, prefiro ficar só com o meu!
- E com alguém do mesmo sexo?
- Não, nunca!
- Já teve vontade?
- Já, mas no fundo acho que era só curiosidade.
- Você podia ser mais livre! Fica se podando a todo momento, isso pode isso não pode. Quero, não quero. Já estive com mulheres mais livres!
- Te dizer "Não." numa sociedade hipócrita e machista é o maior ato de liberdade sexual! Já o teu julgamento, está longe de ser libertador. O fato de eu não suprir suas necessidades e expectativas não tem nada a ver com a minha liberdade sexual, talvez, tenha muito mais a ver com a falta da sua que continua acreditando que meu corpo veio para te servir, enquanto eu acredito que o sexo é gente se dividindo pra multiplicar. Acho que aquele que já se libertou compreende que a liberdade do outro pode ter nada a ver com a sua própria, cada um sabe o que gosta e o que não gosta, o que dói e o que dá prazer ou o prazer que dói e a dor que trará prazer. Tudo que posso te dizer hoje para que entendas um pouco de minha liberdade é não! Não mesmo. Não e não mais uma vez. Mas livre sim! Deus me livre de você ou de qualquer conceito que queira aprisionar a liberdade. E quanto aquela foto, se importa de apagar? Me perdi em nossa ilusória intimidade e confundi liberdade com o teu desejo de me enquadrar!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Vim te escrever!

Já não cabia dentro de mim. Os teus olhos não paravam de brilhar e sem querer eu engoli!
Foi o jeito que encontrei pra digerir a natureza com que sorria sem graça pra tentar se proteger da fome que eu tava.

Nhaaaaac!

Me abocanhou antes que eu te arrancasse pedaços. Eu continuava viva, o ar travava mas era do arrepio bom que a mordida dava. Pronto, a gente, junto se devorava.

Ploc.

A sementinha acabara de tocar o solo! E foi no meio do concreto, onde tudo era reto, que brotou flor curva com cheiro de amor. E no meio no amor curvo, o reto estrada concreta nos separou.

Vrummmmmmm...

O barulho do motor do ônibus ruim que te levou. Mas todo ano tem primavera e o amor é certo, com ele nem concreto barra a pequena flor. Então, te espero aqui, mordida, semente, curva e certa de amor. Até a próxima primavera!