quinta-feira, 23 de julho de 2015

Rainha de Si

   Passou a mão em seus cabelos castanhos enquanto só enxergava os olhos da mesma cor.
   Pensou que não suportaria olhar diariamente para suas orelhas de abando e nem para o nariz, esse último não era tão grande mas sempre tem aquele irmão que adora aumentar nossos "defeitos".
   Ela pensou em como seus cabelos escondiam bem tudo aquilo que não queria que ninguém visse, inclusive aquilo que ela mesmo não queria ver.
   Mas aquilo tudo que via e as vezes desviava o olhar a perseguiria por toda a vida. Era ela, nua, de frente ao espelho, uma mão acariciando seus cabelos, outra mão segurando a máquina que os cabelos cortaria.


   "Vou fugir!",
como fugiria com aqueles cachos que carregavam sua beleza tão bem emquadrada?
   "Vou raspar minha cabeça e vou fugir!",
como se sua orelha de abano e seu nariz italiano a protegessem de qualquer mal intenção. Mas a intenção foi boa!
   "Começo por trás!",
como se desse para desistir no meio do caminho.
   "Começo pela frente, melhor..."

   Então, ela começou. A medida que continuava, seus cachos caiam no chão e desenhavam o tapete por onde mais tarde pisaria ao nomear-se Rainha.

   E na contramão de seu medo, ela não chorou. Careca estava e sorria, sorria por reconhecer-se!

   Reconhecia-se bela, um nariz e orelhas de personalidades singulares que a permitiam ser exatamente o que realmente era. E era bela, tão bela que nada mais a enquadraria.

   Desistiu de fugir pois se encontrou, mudou-se para onde sempre esteve e nunca percebeu!
Rainha de si, essa mulher sou eu.


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