domingo, 28 de julho de 2013

Vândala Supertramp


Eu fui pra linha de frente, eu dancei, eu tive medo, eu ri quando escorreguei, eu levantei e continuei correndo até cair de novo, eu fiquei quieta, eu gritei consciente de que ninguém iria ouvir, eu não tive de me acalmar, logo depois tive todo o tempo do mundo parar que a calma viesse, eu não tive de pensar rápido, mas o tempo que me esperava fez com que o pensamento rápido viesse.

Eu estava sozinha.

Eu fiz o que eu queria, eu andei de mãos vazias, eu quis o que fazia, sozinha.

Me desenhei, me pintei, me cobri, me banhei, me olhei, me percebi, pintei-me nua.

Pensei em tudo o que eu fiz até aqui.

Dai que percebi que os caminhos longos e selvagens só servem para guiar-nos ao desconhecido que reconheceremos dentro de nós. Onde nos deparamos com a grandeza de certa verdades comparadas a ignorância do nosso egoísmo. Sem saber dizer ao certo se a chegada é o caminho ou onde achávamos que ele iria acabar.

E se a felicidade só é real quando compartilhada, o que fazer com a realidade da solidão acompanhada?

Para que nossos sonhos não sejam assassinados, para que notemos a importância de respirar, para que cada dia seja vivido como se fosse o último: sejamos verdadeiros!

A solidão e tudo que ela traz quando vivida intensamente é tão fundamental para a nossa felicidade quanto a importância de compartilhar-la. Falo sobre felicidade e solidão. Falo sobre as duas juntas.

Divida-se, por um. Essa é a única divisão necessária para continuar com seu próprio valor antes de multiplicar-se por outros. Multiplique-se, então, por todos.

Christopher McCandless, obrigada pela carona nesse ônibus mágico.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Coração tranca de fusca

Eu tranquei meu coração. Pronto!

Me senti segura, dona de mim, certa de que nada me machucaria.
Com minhas certezas, com as minhas posses, com a minha segurança: reparei no teu sorriso que fez o meu olhar sorrir de volta e minha boca fraquejar mostrando a insegurança que todas as suas incertezas me traziam.

Descobri que me tranquei com a tranca errada. Feito fusca antigo minha tranca se abre com qualquer chave que esteja mais gasta.

Pobre de mim que achei que estaria segura estacionando meu coração onde a mente pudesse enxergar.

Mas aconteceu! Agora é aceitar que não posso guiar sem gasolina, que não se troca marcha sem o equilíbrio de dois pedais. Agora é abrir a boca pra expressar a insegurança que talvez te mostre que não somos tão diferentes assim.

Então entra. Pega uma carona no meu fusca sem trancas e no meu coração escancarado. Abre minha porta com um sorriso de quem ficou sem graça diante da simplicidade da beleza não pensada. Não repara na bagunça e pode mexer no banco se quiser, o importante é que se sinta a vontade, a viagem é longa até que você se acostume com o barulho que o motor de um coração quebrado pode fazer.

E a estrada infinita vai passar por todas as imagens das fechaduras das portas que já espiamos sem coragem de abrir durante todo esse tempo em que ainda não havíamos nos acompanhado.

Então, assim como o tempo é relativo para quem está usando o banheiro e para quem está na fila esperando para se esquecer de lavar as mãos, o tempo de viagem e onde ela findará será relativo de acordo com as trancas que nela abrirmos e o que estivermos dispostos a enxergar.

Pronto! Você libertou meu coração.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Um dia seremos velhos!

- Quero morrer antes de envelhecer.
- Não fala besteira! Hahahaha...
- É sério. Eu seria previsível demais se simplesmente seguisse o ciclo da vida. Alguma coisa tem que ser diferente comigo. Quero crescer, mas não nos padrões que me são colocados, quero ter filhos, mas não acho um pai que sejam dignos deles, quero envelhecer mas não nessa merda de sociedade onde não se vê beleza em tatuagens enrugadas ou tetas caídas de tanto serem apertadas...
- HahahahahaVocê é louca!
- Tô mentindo? Que velha você acha que vai ser?
- A velha sem tatuagens enrugadas! Hahahaha...
- Mas de tetas caídas!
- E você que nem velha tá e já tá ai, toda pra baixo.
- Prefiro as coisas a modo natural!
- Vai parar de se depilar agora também?
- Me deixaaaaaaaaaaaaaaa! Hahahahahaha...
- Eu não me depilo desde que terminei! Ninguém vai ver mesmo!
- Credo! Não tem mais de um mês isso?
- Isso é preconceito. Não me julgue!
- Te amo até peluda, meu bem. Relaaaaaaaxa!
- Vai me amar quando ficarmos velhas?
- Acho que se eu não morrer antes de envelhecer vai ser só pra te amar.
- Galanteadora barata! Isso que você é, cara amiga!
- Barata ou cara?
- O preço pode variar de acordo com o comprador!
- Cada um dá o valor que quer, não é?
- Exatamente.
- Pois então repito: se eu envelhecer vai ser só pra te amar! Muito mais imprevisível e honesto do que ser apenas mais um no ciclo da vida.
- Justo.
- Será que todos fazem propostas imprevisíveis e honestas ao torno do seu ciclo natural?
- Tá falando de vida ou de menstruação?
- Hahahahahaha... Besta! Tô falando sério.
- Olha, pode até ser, só não sei se é daí que vem a força para querer envelhecer.
- E se eu envelhecer sem fazer nenhuma promessa galanteadora barata, imprevisível mas honesta?
- Dai provavelmente você envelheceria e ficaria pensando em todas as histórias que poderia ter contado.

De uma velha sem filhos, de tetas caídas e tatuagens enrugadas, no funeral da amiga que possibilitou que essa história fosse contada.